sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Já fui a Portugal Parte VII - o relato possível de uma viagem feita sem o minímo planeamento

O pequeno-almoço da residencial era mesmo á Portuguesa, nem faltou umas carcaças. E o cafézinho, que saudades de um café Português.

Hoje o dia não ia ter grandes aventuras. Metemos-nos a caminho pela A23, e depois a A1 até Lisboa. Parámos na ES de Aveiras para dar de beber á nossa Suzukinha e para mais um café. Já vos disse que o café Português é um espectáculo???

Chegámos a Lisboa e ficámos em pânico com o trânsito. Agora percebo porque é que os estrangeiros dizem que nós conduzimos que nem maníacos. De qualquer maneira, viver numa cidade onde toda a gente anda de bicicleta e há pouco transito, deixou-nos algo destreinados para o trânsito Lisboeta.

Fomos até Cascais ter com o meu daddy e fomos almoçar com ele e a minha tia. Um almoço Português, filetes de pescada com arroz de tomate malandrinho e uma saladinha de alface e tomate, bem temperada. Estava 5* e deu para matar as saudades de comidinha Portuguesa.

E depois, fomos ao Santini comer um gelado. O meu marido nunca tinha comido gelados no Santini. Hoje ficou a saber o que perdeu estes anos todos.

E depois fomos namorar para a baía de Cascais.

- Estava aqui a pensar...
- Mau, tu quanto te pões a pensar, sabe Deus o que vai sair dai.
- E se fossemos ao Algarve ter com os meus pais e a minha irmã??? Ainda fazíamos uma prainha e comíamos umas sardinhas.
- Mas tu ainda queres andar mais de mota???
- Não, vamos no teu charuto.
- O meu Golf não é nenhum charuto, ouviste??? Gosto muito do meu carrinho.
- Tá bem, pronto, então vamos no teu Golf 1.4, modelo Charuto.

Se alguém estiver interessado num motard de olhos verdes, pode levá-lo...

E lá fomos nós até ao Algarve. Quer dizer, primeiro fomos de Cascais até á nossa casinha, deixar a mota e buscar o nosso carrinho.

Desta vez, fomos pela AE para experimentar. Vamos sempre pela nacional porque o €€€ da portagem dá para a gasolina, mas desta vez quisemos ver como era a AE. A paisagem era gira, mas o transito era quase nenhum. Uma AE daquelas sem transito deixa-nos a pensar que algo está mal...

- Era giro chegar ao Algarve e acontecer o mesmo que o ano passado, não achas???
- Estás a falar do que, exactamente??
- Daquilo com a minha mãe.
- Ah, isso, pois foi, foi muito giro.

Pois o que se passou e passa-se sempre é que o meu marido nunca diz aos pais quando vem a Portugal, ou melhor, ele diz. Mas diz que vai no dia 10 e chega no dia 8, e nunca ninguém está á espera dele. Estou para ver o dia em que dá uma coisinha aos pais dele.

Neste caso, a situação ocorreu o ano passado em Marco, metemos-nos a caminho de Portugal e fomos direitinhos para o Algarve. Toda a gente pensava que chegávamos dois dias depois.

E não é que quando íamos a chegar a Quarteira, a mãe do meu marido ia a atravessar a passadeira. Claro que ele acelerou para a “atropelar”. Haviam de ver a cara dela quando viu que era o filho. O meu marido adora fazer estas coisas, parece um puto.

E este ano aconteceu o mesmo, só que ia a família toda e não conseguimos “atropelar” ninguém. Enfim, é sempre bom ver o meu marido satisfeito com a família dele.

Claro que depois fomos jantar as ditas sardinhas, que estavam uma maravilha, bem gordinhas.

Foi um fim-de-semana para descansar da viagem, que, tenho que admitir, apesar de estar exausta, estou pronta para repetir, mas, de preferência, numa destas.

Ficámos em Portugal mais uns dias para eu ir ao médico e fazer uns exames de rotina. E voltámos, só porque o meu marido ia começar um emprego novo. Final perfeito para uma viagem quase perfeita.

Recomendo a fazerem uma aventura destas pelos menos uma vez por ano para manter a sanidade mental.

E agora, vou experimentar fazer umas receitas típicas das regiões por onde passámos. Não percam os próximos episódios.

A Tia Maria.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Já fui a Portugal Parte VI - o relato possível de uma viagem feita sem o minímo planeamento

Realmente, Madrid é muito bonita, nao há duvida. É pena nao termos visto mais. Estávamos a ficar sem tempo, pois tinhamos compromissos em Portugal, mas fomos até á Puerta del Sol e até á avenida Paseo de la Castellana, onde está o estádio Santiago Barnabéu. O meu marido era para ter vindo trabalhar para aqui há uns anos, mas a empresa faliu com o 9/11.

Andámos a passear por estas bandas simplesmente a apreciar as vistas, e o meu marido sempre a olhar para as vistas erradas.

Era por volta das 11h quando resolvemos arrancar para Lisboa. Tinhamos que chegar até Domingo porque segunda tinha uma consulta marcada no neurologista.

- Por onde é que vamos agora para Lisboa??
- Bem, o normal é apanhar a AE para Badajoz, depois, já emPortugal, a A6, e depois A2 até Almada, mas eu nao queria fazer isso. Vamos apanhar a primeira AE que virmos e depois, vamos ver onde é que vai dar.
- Estás a brincar, nao estás??
- Quer-se dizer, a modos e tal que não. Isto não é suposto ser uma aventura???
- Mas tanta aventura é demais.
- Deixa-te de mariquices, e anda lá. Achas que eu te levava para maus caminhos???

É melhor não responder...

Bem, e lá fui eu. Mas como é que ele me convence sempre a fazer estas coisas?????

Acabámos por entrar na A6 a caminho de sabe Deus para onde. Algures depois de muitos Km’s, aparece a indicação de portagem no túnel a seguir, e o meu marido não perde tempo, sai na primeira saída para a nacional.

Fomos andando até que ele pára.

- Sabes que mais??
- Quê?
- Estou com a ligeira sensação que estou perdido.
- E se ligasses o GPS??
- Epá, não me está a apetecer, é mesmo á aventura, vamos beber um café solo, e depois já pensamos melhor.

Parámos num café cheio de camionistas Espanhóis com proeminentes barrigas e um ar algo descuidado.

Sentámos-nos e pedimos “dos café solo”, isto para não nos servirem uma meia-de-leite, que é como os nuestros Hermanos gostam de beber café. O meu homem lá foi perguntar ao balcão qual era a melhor maneira de ir dali para Portugal e se havia algum sitio giro para visitar.

O Espanhol do balcão tinha um vozeirão que se ouvia a um Km. Entao o melhor era irmos até Ávila, uma cidade fortificada a uns 50Kms dali e depois ir para Ciudad Rodrigo.

- Ouviste o que o espanhuelo disse??
- Era difícil não ouvir , com aquele vozeirão.
- É capaz de ser giro. Nao estou é com muita vontade de ir a Ciudad Rodrigo, deve haver maneira de irmos mais depressa. É que assim, estamos a ir ainda mais para cima.
- Não querias aventura e não sei que?? Agora aguenta-te.
- Vou-me aguentar é com aquela tortilla de patatas que está ali a rir-se para mim. Queres uma também?
- Bem, já que insistes...

Se há coisa que os espanhóis fazem bem, são tortilhas. Que maravilha. Tenho que experimentar quando voltar para casa.

Já com o estômago bem acochegado, lá voltámos a caminho para Ávila. Passado poucos Kms, tivemos que parar para dar de comer á nossa Suzukinha. Também tem direiro, tadita.

O espanhol da ES veio meter conversa connosco enquanto o meu marido atestava a mota.

- Vocês são Portugueses??
-Somos, pois.
- A minha esposa tambem é Portuguesa, e uma das nossas filhas nasceu em Portugal, a mãe insistiu.
- A sério?? Que giro.

Bem, era só para atestar a mota, acabámos por ficar a ouvir o Espanhol contar a história da vida dele. Mas foi interessante, sem dúvida.

Lá nos conseguimos despedir a muito custo e rumámos a Ávila. E o meu homem pára novamente.

- Deixa-me adivinhar, estás perdido novamente.
- Bem, técnicamente, não estou perdido, sei que estou em Espanha.
- Que piadinha, sei lá.
- Olha, vou peguntar áquele gajo que vai ali de mota. Agarra-te.

E lá fomos nós atrás de um “gajo que ia ali de mota”. Lá o alcançamos e pedimos para ele parar. Lá tentámos perguntar-lhe o caminho para Ávila, mas o espanhol dele não era muito convincente.

- Olha lá, tu não és Espanhol, pois nao??
- Não, sou Escocês, vivo ali em baixo.
- Ah, então vamos falar Inglês que é melhor.

Remédio santo, o homem já não se calou. Lá nos indicou o caminho certo, ficámos a saber que tinha decidido ir viver para ali porque havia sempre Sol e os Espanhóis eram simpáticos. Não percebi muito bem esta ultima parte...

Finalmente, chegámos a Ávila, não há dúvida que é bonito e num estado de conservação irrepreensível. É pena não ter trazido a máquina fotográfica. Vou ter que fazer esta viagem toda de novo. Que chatice...

Mais um café solo, mais uma tortilla de patatas. E mais um passeio pela cidade. Vale a pena lá ir, digo-vos. Aliás, vale bem a pena ir passear por Espanha, tem zonas lindíssimas, mas fora das grandes cidades, é pena é darem tanto trabalho a descobrir.

Perguntámos a outro Espanhol como ir para Portugal sem ir pela AE, ele mandou-nos ir pela N110 até Plasencia, depois Coria e depois Portugal. E como nós somos bem mandados, lá fomos.

Passámos por uma zona montanhosa com umas curvas expectaculares, quando parámos mais á frente, o sorriso de orelha-a-orelha do meu marido dizia tudo, cheia de plantações de cerejas.

Parámos em Cabezuela del Valle, uma terreola perdida no meio de Espanha para mais um café e tortilha de patatas. Acabou por ser um café com cerejas. O dono do café era casado com uma Portuguesa e tinham uma filha e um filho, e ainda havia o irmão que era divorciado de uma Portuguesa. Ficou tão contente de nos ver que nos ofereceu um alguidar de cerejas.

Esta viagem ficou marcada por toda uma série de coincidências engraçadas. Mas tem piada que as vezes que fizemos esta viagem de carro, não nos aconteceu nada destas coisas.

O resto da viagem por hoje não tem muita história. Quando chegámos a Plasencia, virámos para Coria e depois entrámos em Portugal por Monfortinho, parámos numa terreola para beber finalmente um café a sério. Acabámos por entrar numa tasca cheia de homens, eu era a única mulher, e nunca me senti tão despida na vida, e o meu marido só ria.

Estava tão cansada que lhe pedi para irmos para Lisboa só no dia seguinte. Acabámos por ir dormir em Castelo Branco numa residencial em conta, 40€, mas com uma casa de banho que parecia saída de um filme dos anos 50. Limpinha, com águinha quentinha, mas completamente demodé.

Depois de um banhinho para retemperar forças, sempre foram á volta de 450Kms, fomos tratar do jantarinho. Comemos uns panados de frango com uma sopinha caseira de legumes numa tasca perto da residencial, que souberam a pouco, mas áquela hora, já nos podiamos dar por contente porque não havia mais nada aberto.

Depois de vermos o jornal da noite, e de nos pormos a par das noticias, mais valia ter estado quieta, resolvemos que estava na altura de cair nos braços de Morfeu.

Mas estavam várias motas paradas á porta da residencial e o meu marido lá arranjou maneira de saber quem eram e, então, foi conversa até ás tantas.

Amanhã devemos chegar a Lisboa.

A Tia Maria.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Já fui a Portugal Parte V - o relato possível de uma viagem feita sem o minímo planeamento

Hoje o São Pedro não está do nosso lado, definitivamente. Não está a chover, mas o céu está cheio de nuvens e a prometer.

De qualquer maneira, decidimos ir ver um pouco de Bordéus. Não vimos muito, limitámos-nos a andar de mota pela cidade e a parar numa Patisserie para uns croissants e cafézinho.

É uma cidade muito bonita, sem dúvida. Merece um fim-de-semana inteiro para a ver como deve ser. Até porque é uma cidade Património da Humanidade e tem muito para ver. Mas como não podemos gastar muitos mais dias na viagem, porque temos compromissos em Portugal, fica a promessa de voltarmos.

Hoje chegámos a Madrid, 696Kms de viagem, mais coisa menos coisa. A viagem não teve grandes atractivos, tirando a passagem pelos Pirenéus, que é sempre magnifica, e a nossa aventura ao pequeno-almoço.

Então, parece que o meu marido ontem, enquanto verificava a mota, foi abordado por um moço a falar inglês, que estava a ter alguma dificuldade com o check-in electrónico do hotel e se ele não o poderia ajudar. Então, lá esteve ele, que está sempre disposto a ajudar os outros, a explicar ao moço como fazer o check-in.

Ora, estávamos nós no dia seguinte a tomar o nosso costumeiro pequeno-almoço quando o dito moço entra na cozinha e senta-se na mesa ao nosso lado. Passado, um bocado, levanta-se e vem ter connosco.

- Desculpem lá, mas vocês são Portugueses??
- Tu és Português??? Mas então para que é que estivemos a falar estrangeiro ontem??
- Epá, sabia lá, eu ontem só queria era conseguir um quarto.

Bem, fartámos-nos de rir com a situação. Ao que parece, o meu marido e este moço estiveram mais de ½ hora a falar inglês um com o outro. São as vicissitudes de se andar nesta vida de imigrante. E também o lado engraçado.

Conclusão, o nosso conterrâneo estava a viver na Escócia, e meteu-se a caminho de Portugal com um mapa imprimido a partir do Google Maps, mais nada. Este ainda é pior que nós. Mas lá o conseguimos orientar e ele lá foi a caminho.

Aconteceram-nos várias histórias destas pelo caminho.

Ainda em Franca, passámos por Cap Breton, Bayonne, Biarritz, onde ficámos a dormir quando viemos para a Holanda em Novembro de 2007, foi uma aventura daquelas, Saint-Jean-de-Luz.

Estava eu a dizer então que passámos pelos Pirenéus, já não é a primeira vez,mas desta vez adorei mesmo. As outras vezes, foram sempre já de noite e uma delas foi no meio de uma tempestade de neve, em que cheguei mesmo a ter medo de que nos acontecesse algo.

Desta vez, foi de dia com um sol radioso. Não há palavras para descrever aquelas paisagens, são mesmo de cortar a respiração. Aliás, não sei se era de ir de mota desta vez, mas parece que foi especial, não sei explicar.

Parámos algures para meter gasolina, a nossa suzukinha só leva 20lts da dita e a cada 250/300Kms, temos que parar e atestar. O basco da ES percebeu que éramos portugueses e meteu conversa connosco.

Então parece que os portugueses não são muito bem-vistos por aquelas partes. Ao que parece, as empresas de construção civil ficam com tudo quanto é projectos de construção porque fazem uns preços baixíssimos com que as empresas bascas não conseguem competir. Não sei bem porquê, mas achei preferível não me alongar em mais conversas.

Entretanto, o meu marido pôs-se a conversar com um casal Holandês que ia a caminho de Portugal onde têm uma casa no norte. É incrível que ao fim de seis meses de aulas, o meu marido fala Holandês com um á-vontade tal que parece que nunca fez outra coisa na vida.

Depois, fomos a San Sebastian, típico. Foi pena estarmos algo pressionados de tempo. O ano passado andámos 3 semanas a andar de mota por Franca, Bélgica, Alemanha, Luxemburgo e ainda alguma coisa da Holanda e tivemos tempo para ver tudo o que tínhamos planeado.

Mas haveremos de voltar com mais tempo.

Antes de chegarmos a Madrid, parámos para almoçar algures num restaurante atestado de camionistas. Pensámos logo que era o sítio ideal para comer, mas mudámos de ideias quando olhámos bem lá para dentro. Havia outro ao lado, portanto nem perdemos tempo a pensar nisso.

O engraçado desta paragem é que o restaurante ao lado era o mesmo onde tínhamos parado para almoçar da ultima vez que fizemos esta viagem. Foi uma coincidência gira, mas proveitosa, pois o restaurante era mesmo bom. 9€ por pessoa, refeição completa. E ainda dizem que não se come bem em Espanha.

Chegámos a Madrid por volta das 19h, parámos bem no centro e fomos logo á procura de onde tomar um cafézinho. Á falta de melhor, entrámos num Burguer King. Mais uma vez, deu-se mais uma coincidência gira.

Uma senhora venezuelana que estava na mesa ao lado da nossa, perguntou-nos se nós éramos portugueses.

- Vocês são portugueses??
- Sim, somos.
- Pois o meu marido também é português.

Conclusão, o marido da senhora era um Português que imigrou para a Venezuela há uns anos, casou com ela, e tinham dois filhos. Agora estavam de férias em Madrid.

Ainda ficámos um bocado á conversa, até que nos despedimos e fomos á procura de um hotel. Felizmente, o Etap de Madrid tinha quartos.

Depois de um banho retemperador, fomos ver as vistas e procurar onde comer. Mas chegámos á conclusão que não nos apetecia muito andar de um lado para o outro e acabámos por novamente ir ao Burguer King. Sempre é melhor que o Mac.

Amanha logo vamos ver um bocado de Madrid.

A Tia Maria

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Já fui a Portugal Parte IV - o relato possível de uma viagem feita sem o minímo planeamento

A viagem hoje não iria ter grandes atractivos. A intenção era chegar a Bordéus, a quase 600kms de Paris. O dia estava bonito, o sol estava bem quente e a viagem prometia ser algo entediante. Estava enganada.

Depois do costumeiro pequeno-almoço, sim, que eu não dispenso nunca, pusemos-nos a caminho. Ao fim de 200Kms, saímos da AE para meter gasolina. É que por estas paragens, a diferença de preço entre a ES da AE e da estrada nacional, chega a ser de 0,30€. O melhor sitio para abastecer é, quase sempre, os InterMarchés, os Auchans, os Leclercs e outros do género.

Voltámos á AE e eis que me deu uma vontade fisiológica de tal maneira que acabámos por ter que parar mesmo na ES da AE. Quando volto, vejo o meu marido ás gargalhadas com um grupo de sujeitos com todo o ar de camionistas tugas.

E eram realmente, eram 5 portugueses e um espanhol. Tinham vindo todos á Holanda buscar carne e legumes. E eu cá a pensar com os meus botoes como é que é possível que nós, que temos secretos de porco preto, carne mirandesa, barrosa, maronesa e por ai fora, importássemos carne da Holanda, isto sem falar nos legumes.

Acabámos por, entre conversas e cafés, passar mais de uma hora com os nossos conterrâneos. O meu marido estava contentissímo por poder ter “conversas de gajos”, seja lá o que isso for. Enfim, homens...

Pusemos-nos a caminho novamente e passado um bocado, saímos da AE. O meu marido parou depois das portagens para me explicar o que é que pretendia fazer.

- Olha lá, esta zona aqui é porreira pela nacional, tem umas curvas á maneira e depois, podemos comer aí numa terreola qualquer. Qué que me dizes??
- Mas nós não conhecemos esta zona.
- Não faz mal, a gente apresenta-se quando lá chegarmos.

Tipico do meu marido. E lá fomos nós á procura de umas “curvas á maneira”. Curvas havia muitas, nao há dúvida, mas a qualidade do alcatrao era por demais mázinha. Passado um bocado, lá o meu marido resolveu parar outra vez.

- Acho que isto não foi muito boa ideia...
- Achas??????
- Tenho a certeza. Que tal comermos algo e depois voltarmos para a AE??
- Acho que sim, que isto não está a ter piada nenhuma.

Parámos na primeira terreola que encontrámos, e era mesmo uma terreola, não havia nada aberto, nem sequer um Mac para desenrascar havia. Acabámos por ir parar a um bairro com muito mau aspecto onde encontrámos uma Patisserie aberta.

O restaurante ao lado tinha lá uns clientes algo duvidosos e o “sentido de aranha” do meu marido ficou logo em alerta, por isso fomos directos para a Patisserie.

Estávamos nós a decidir o que comer, patáti, patátá, e por ai fora, quando a senhora atrás do balcão se vira para nós e num Português com um sotaque algo afrancesado, nos pergunta se éramos portugueses.

Realmente, nós estamos mesmo em todo o lado. Então não é que numa terreola perdida nos confins de Franca, encontrámos uma portuguesa?? Então a senhora em questao tinha ido com os pais para Paris com 11 anos e depois foi parar aquela terreola porque casou com um francês que resolveu ir viver para ali. Entretanto, divorciou-se e só estava ali para fazer algum €€€ antes de regressar a Paris.

Lá ficámos mais uma hora á conversa até que nos pusemos novamente a caminho. Valha-nos o GPS, abençoado quem o inventou, senão ainda hoje andaríamos á procura da saída para a AE.

O resto da viagem atá Bordéus não tem muita história, mais umas paragens para gasolina, mais uns cafézinhos e lá acabámos por chegar a Bordéus. 600 Kms num dia é realmente um bocado demais, o meu traseiro que o diga, mas o meu marido estava ali como se não fosse nada com ele.

- Mas tu não estás cansado???
- Um bocadinho, nada demais.
- NADA DEMAIS??? Eu estou que nem posso e tu dizes nada demais????
- Ó amorzinho, tu não estás habituada a fazer tantos Kms, é normal. Eu já ando de mota desde 98 e com esta, já fiz mais de 160000Kms.
- Pois...
- E de qualquer maneira, ando a treinar para entrar para a IBA.
- IBA?? E isso é o que, é IVA á moda do norte??

Afinal, a IBA é a "Associação dos Gajos com Traseiro de Aço". E para se ser sócio, tem que se fazer 1000 Milhas em menos de 24h.

Eu começo realmente a achar que "os gajos das motas" são todos um bocado desregulados, o meu marido incluído. E eu não devo estar muito melhor...

- Ainda falta muito para o Hotel???
- Sei lá, ainda tenho que ver onde é ali no GPS.
- É que eu estou tão cansadinha que só quero ver a minha cama.
- Deixa-me lá acabar este café, e vamos já. Ora, o GPS diz que ainda faltam 200 Kms.
- 200kms???? O QUÊ?????
- Ah, enganei-me. Afinal, são só 2kms.

E depois ri-se. Não dá mesmo vontade de lhe bater????

Mas bato-lhe depois, agora só quero mesmo é ver uma caminha e uma banheira para tomar um banho.

Bem, já chegámos ao hotel. É o Premiere Classe de Lormont. É um hotel low-cost, custa 33€ por noite e tem o mínimo indispensável, mas é bastante confortável. Mais 8€ dos pequenos-almoços.

Depois de um banho que fez maravilhas, fomos á procura de onde comer. Andámos ás voltas e encontrámos um Mac aberto. Mas o meu marido não estava para ai virado.

- Depois de 600 Kms a conduzir, eu tenho que me alimentar como deve ser. Queres comer ai, porreiro, eu vou á procura de melhor.

A sério, eu bato-lhe, mas bato-lhe mesmo com vontade. Eu aqui cheia de fome e sua alteza agora armado em fino.

Mas ainda bem, porque acabámos por ir comer ao Buffalo Grill, uma Steak House onde comemos uns bifes com umas batatinhas fritas de comer e chorar por mais. Parece que vou ter que arranjar outra desculpa qualquer para lhe bater...

Já eram altas horas da noite quando resolvemos voltar para o hotel. O João pestana já estava de volta de mim e adormecer no carro com o marido a conduzir é uma coisa, na mota é totalmente diferente.

Tenho que admitir que, apesar de estar que nem posso, estou a gostar da viagem. Começo a perceber os "gajos das motas", realmente a tal sensação de liberdade que tanto falam é mesmo assim, mas não dá para explicar, só experimentando mesmo. E como tenho um condutor super cuidadoso, vou completamente á vontade atrás dele.

Chegámos ao hotel e fui direitinha para o quarto enquanto o meu marido ficou a verificar se estava tudo bem com a mota. Ele bem diz que "ah e tal, depois logo se vê", mas sempre que parávamos, lá ia ele ver o nível do óleo e por óleo na corrente.

Bem, já nao me apetece esperar mais por ele, estou que nem posso.

Vou dormir. Até amanha.

A Tia Maria

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Já fui a Portugal Parte III - o relato possível de uma viagem feita sem o minímo planeamento

Baguetes, torradas, queijo, fiambre, manteiga, compota de alperce, morango e laranja, mousse de maçã, leite, café e sumo de laranja. Mas há melhor maneira de começar o dia do que um bom pequeno-almoço?

E foi realmente assim que começou a nossa aventura Parisiense. Claro que a verdadeira aventura começou na noite anterior quando o meu homem quase deixou cair a mota ao tentar po-la no descanso central.

Já estava a imaginar a nossa viagem a ficar por ali. Mas, felizmente, ele aguentou-se bem com os 230Kgs da nossa menina. Agora já percebi a utilidade de tantas horas a malhar no ginásio.

Bem, mas isso são águas passadas. Agora quero é divertir-me.

- Olha lá, tava aqui a pensar...
- Simmm??
- Que tal irmos andar de barco no Sena?? Estive a ver o site da Batobus e parece que se pode andar num barco o dia todo e entrar e sair onde quisermos e dá para ver uma boa parte de Paris.
- Gosto dessa ideia. E onde é que isso fica??
- Podemos começar ao pé da Torre Eiffel.

E assim foi. Lá fomos para a Torre Eiffel. Mas antes parámos numa Patisserie para comer uns croissants e um café au lait. Sim, eu sei que o pequeno-almoço foi 5*, mas eu tinha que comer uns croissants. Estava destinado. Agora pagar 2,50€ por uma meia-de-leite é que não estava incluído no pacote.

Finalmente chegámos aos barcos, pagámos 12€ cada um, que valeram bem a pena. Passámos o dia todo a entrar e a sair do barco, fomos ver o museu D’Orsay, a igreja St-Germain-des-Prés, que é muito simples, comparada com a Notre Dame, mas que tem uns vitrais lindos. A nossa ultima paragem antes do almoço foi a Notre Dame.

Não há palavras, é deslumbrante, vão ver, vale a pena.

Almoçamos umas tipicamente francesas baguettes, que estavam uma delicia, e retomámos o nosso passeio. É claro que não nos limitámos a ver o que estava no roteiro, andámos Kms a pé.

Fomos ver os Champs Elysées, subimos a avenida até ao Arco do Triunfo, e bebemos litros de água porque estava um dia de calor insuportável.

Lá tivemos que nos sentar na esplanada de uma patisserie a comer mais uns croissants e um cafézinho. Que sacrifício...

Finalmente, fomos ver o museu do Louvre. Já era algo tarde, então resolvemos deixar a visita ao museu própriamente dita para outras núpcias, resolvemos ver os jardins e a arquitectura local. O meu marido bem diz que se não fosse engenheiro informático, seria arquitecto.

E nada melhor do que acabar o dia com um piquenique junto á Torre Eiffel. Fomos a uma mercearia nas redondezas comprar pão, queijo, fiambre, sumos, pates, batatas fritas e fruta e fomos para o jardim junto á torre. Ainda tivemos direito a espéctaculo de luzes e tudo.

Muito mais haveria para ver em Paris, mas o tempo passou-se sem darmos por ele. Ficou a promessa de voltarmos.

A Tia Maria

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Já fui a Portugal Parte II - o relato possível de uma viagem feita sem o minímo planeamento

Que lindo dia de Sol, e que paisagem linda. Esta zona industrial onde ficámos a dormir num hotel F1 é realmente linda…

Mas por 33€, não se pode pedir mais. Aliás, foi uma constante desta viagem, os hotéis onde ficámos alojados estavam sempre localizados em zonas industriais e pagámos sempre entre 30 e 40€. Nestas coisas, acho que o meu marido tem razão.

- Olha lá, não é só para dormir e tomar o pequeno-almoço??? Então é para gastar o menos possível. E depois, o dinheiro que poupamos na dormida, prefiro gastá-lo num jantar á maneira.

Bem, mas pelo menos, está um lindo dia de sol, e depois de um primeiro dia de viagem algo “atribulado”, soube bem dormir mais um pouco.

Claro que o meu homem já saiu para tomar o pequeno-almoço e já cá veio acima umas 30 vezes dizer para eu me despachar.

- Então, mas isso demora muito??
- Já vai, sabes que isto demora sempre um "bocadinho" mais do que tu.
- Pois, e não trouxeste metade dos cremes e dessas porcarias todas. Vê lá que depois passa da hora de tomares o pequeno-almoço.
- Pois, são porcarias, mas tu gostas quando eu te ponho hidratante na cara.
- É só para te fazer a vontade, homem que é homem não usa essas mariquices.
- Pois, pois...
- Bem, eu tou lá em baixo á tua espera. Vou buscar a mota e por tudo a jeito.

E, entretanto, eu vou-me despachar calmamente. Ainda tenho vários dias de viagem pela frente e quero chegar a Portugal bem descansada.

Ainda bem que a nossa “mala” é uma miniatura e não demora nada a arrumar, mas de qualquer maneira, dava-me jeito mais um "bocadinho assim".

Aliás, para a próxima vou mas é de carro, não, vou fazer melhor, vou de avião, ele que vá de mota, se quiser. Ou então vai cada um na sua mota, ainda tenho que considerar melhor esta hipótese.

Já com o pequeno-almoço tomado e cheios de vontade, rumámos a Bruges, que ainda ficava a uns 5 kms.

Passámos o dia todo em Bruges, sempre com a sensação de termos recuado no tempo. É simplesmente adorável, fartámos-nos de comer chocolates, fomos ao museu do chocolate e ao museu arqueológico, andámos de barco pelos canais, visitámos a Igreja de Nossa Senhora, passámos pelo Kruispoort, comemos uns mexilhões de comer e chorar por mais, namorámos muito.

A propósito, já vos disse que nos fartámos de comer chocolate?? Acho que não houve uma loja de chocolates onde não tivéssemos entrado e comido chocolates. A meio da tarde, quando já tínhamos visto tudo o que era suposto os turistas verem, e os meus pés já estavam a pedir misericórdia, ainda fomos até ao Grande Mercado beber um chocolate quente feito com pepitas de chocolate, pois o dia de sol já se tinha ido e estava a levantar-se um ventinho frio, a imprevisibilidade do tempo por estas bandas não deixa de me surpreender.

Bem, e agora é hora de nos pormos a caminho, porque ainda temos 296kms para fazer até Paris e ainda temos que ir á procura de um hotel. Já vos disse que esta viagem não foi minimamente planeada???

Antes de chegar a Paris, parámos numa ES na AE onde metemos conversa com um camionista Português, muito simpático, era a primeira viagem do género que fazia e estava tão contente como nós de ouvir alguém a falar Português. Depois de um bom bocado á conversa, lá nos metemos á estrada novamente.

Por incrível que pareça, chegámos a Paris ainda não eram 10 da noite. Fomos direitinhos a um hotel Etap, na Porte D'órleans, era o mais perto que o mui útil GPS indicou. A sorte desta vez não foi madrasta, havia quartos disponíveis.

Hoje não estava tão cansada como ontem. Fomos por as tralhas no quarto e depois fomos procurar onde comer.

Acabámos por ir a uma Pizzaria, àquela hora e naquela zona não havia muito mais disponível, e dividimos uma Lasagna verde e uma Pizza quatro queijos.

Ainda deu para meter conversa com uns brasileiros que estavam a dar a volta á Europa de auto-caravana.

A zona do hotel não era das mais bem frequentadas àquela hora, então não nos aventurámos muito. Fomos direitinhos para o quarto porque no dia seguinte queríamos passar o dia todo a ver Paris.

Amanha continuo, agora vou dormir... ou não.

A Tia Maria

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Já fui a Portugal Parte I - o relato possível de uma viagem feita sem o minímo planeamento

Mas porque é que o despertador está a tocar a esta hora?? E onde é que o meu homem vai com tanta pressa???

- Mulheri, cuméqué??? Tá no ir ou nem por isso??
- Que horas são?? Deixa-me dormir, estou cheia de sono.
- Não quero saber disso para nada, ou sim ou sopas. Cuméqué???
- Tá bem. Eu vou, mas deixa-me dormir mais um bocado.
- Prontos, vou tratar da mota.

Eu devo estar doida, acabei de dizer ao meu marido, ainda meio a dormir, sem perceber muito bem o que estava a fazer, que alinhava ir com ele de mota até Portugal.

Endoidei de vez, só pode. Não é que eu não goste de andar de mota, até gosto e bastante, mas 2800Kms???

- Mas, amorzinho, e a mota está em condições??
- Sim, já pus óleo na corrente e vi o nível do óleo.
- Só isso??
- Quer-se dizer, já mudei o pneu da frente a semana passada. Não falta mais nada.
- E não é preferível fazer a revisão???
- Paquê??? O mais que pode acontecer é ficares pelo caminho, logo se chama a assistência em viagem.

A sério, isto não está a acontecer. É um pesadelo, só pode. Belisca-te, acorda. Aiiii, isso dói.

- Vai tomar banho, tens 5min.
- Mas eu quero dormir mais.
- Andor, já só tens 4.

Bem, não tenho hipóteses. Vou-me despachar e logo se vê o que vai sair daqui.

- E o que é que estavas a pensar fazer??
- Bem, arrancamos até Paris, ficamos lá uns dias, namoramos um bocado e tal, arrancamos para Bordéus, curvões nos Pirenéus, comprar uns recuerdos em Madrid e depois logo se vê.

O meu marido é uma pessoa muito organizada para certas coisas, mas quando é para andar de mota, “depois logo se vê”. E eu vou na conversa dele. Arrghhhhh.

Bem, com esta conversa toda, já são 10:15h. Já tomámos o nosso costumeiro pequeno-almoço, já fizemos a “mala”, pusemos tudo na mota e agora o costumeiro ritual, blusão, capacete e luvas.

Caso não tenham reparado, esta viagem não foi minimamente preparada. Já tinha falado com o meu marido que queria ir a Portugal, mas de avião, e ele já me tinha tentado convencer a fazer isto, mas eu não me descosi.

Bem, agora já está. Seja o que Deus quiser. E lá arrancámos a caminho de Paris, a cidade das luzes, a nossa primeira paragem. São 500 Kms de Wageningen até Paris, mais coisa menos coisa. Claro que só chegamos a Paris passados uns dias porque quando parámos para cafézinho na AE, o meu marido se lembrou de me perguntar se eu não queria ir a Gent, na Bélgica.

- Olha lá, tava aqui a pensar...
- O quê?? Quando tu te pões a pensar, nunca sei o que vai sair dai.
- Não tinhas dito não sei quê e tal que querias ir a Gent ou qualquer coisa do género??
- Sim, por acaso, até gostava.
- Ok, até fica de caminho e tudo.
- Mas não tens que te desviar muito??
- Ora, isso mais 300 menos 300, não há-de ser nada.

Pois, e eu que ao fim de 100Kms, já não sentia o traseiro. Acabámos por passar o dia em Gent. É muito bonita, não há duvida. Parece uma cidadezinha de brinquedo.

Andámos de barco pelos canais, vimos castelos, Igrejas, catedrais, monumentos vários, infelizmente, esquecemos-nos da máquina fotográfica, uma boa desculpa para cá voltarmos, comemos num restaurante tipicamente "Belga", o Pizza Hut, namorámos muito, andamos kms a pé e quando eu já desesperava por uma caminha, o meu marido lembrou-se desta.

- Olha lá, tu não tinhas dito que também querias ir a Bruges??? São só mais uns Kms.
- Não, eu quero dormir. Percebes??? DORMIR.
- Tens tempo para dormires quando chegarmos a Portugal. Olha lá, que eu só vou dizer isto uma vez. Arrancamos para Bruges, arranjamos para lá um hotel baratuxo, tipo F1 ou Etap, metemos lá as tralhas e vamos pós copos depois.
- Eu quero dormir, estou cansadíssima.
- Já dormes, anda lá.

E prontos, lá fui eu arrastada novamente para as maluqueiras do meu homem. Não sei onde é que ele vai buscar tanta energia.

Mas lá chegámos a Bruges e fomos directamente para o Hotel, abençoado GPS. Quais copos, qual quê, eu quero é dormir o meu sono de beleza.

- Bem, já que estás nesse estado, vou sozinho até ao bar aqui em frente.
- Mas tu não estás cansado depois disto tudo?
- Um bocado, mas estavam ali umas louras a meter-se comigo.
- QUÊ?????
- Não estava a falar das louras giras que estão a servir no bar, era das cervejas mesmo.
- AH BOM.
- Ó amorzinho, tu sabes que eu só tenho olhos para ti quando não estou a olhar para as outras.

Pois, com a verdade me enganas. Não fossem esses olhos verdes, não sei, não. Bem, e agora vou dormir. Boa noite.

A Tia Maria.