sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Já fui a Portugal Parte IV - o relato possível de uma viagem feita sem o minímo planeamento

A viagem hoje não iria ter grandes atractivos. A intenção era chegar a Bordéus, a quase 600kms de Paris. O dia estava bonito, o sol estava bem quente e a viagem prometia ser algo entediante. Estava enganada.

Depois do costumeiro pequeno-almoço, sim, que eu não dispenso nunca, pusemos-nos a caminho. Ao fim de 200Kms, saímos da AE para meter gasolina. É que por estas paragens, a diferença de preço entre a ES da AE e da estrada nacional, chega a ser de 0,30€. O melhor sitio para abastecer é, quase sempre, os InterMarchés, os Auchans, os Leclercs e outros do género.

Voltámos á AE e eis que me deu uma vontade fisiológica de tal maneira que acabámos por ter que parar mesmo na ES da AE. Quando volto, vejo o meu marido ás gargalhadas com um grupo de sujeitos com todo o ar de camionistas tugas.

E eram realmente, eram 5 portugueses e um espanhol. Tinham vindo todos á Holanda buscar carne e legumes. E eu cá a pensar com os meus botoes como é que é possível que nós, que temos secretos de porco preto, carne mirandesa, barrosa, maronesa e por ai fora, importássemos carne da Holanda, isto sem falar nos legumes.

Acabámos por, entre conversas e cafés, passar mais de uma hora com os nossos conterrâneos. O meu marido estava contentissímo por poder ter “conversas de gajos”, seja lá o que isso for. Enfim, homens...

Pusemos-nos a caminho novamente e passado um bocado, saímos da AE. O meu marido parou depois das portagens para me explicar o que é que pretendia fazer.

- Olha lá, esta zona aqui é porreira pela nacional, tem umas curvas á maneira e depois, podemos comer aí numa terreola qualquer. Qué que me dizes??
- Mas nós não conhecemos esta zona.
- Não faz mal, a gente apresenta-se quando lá chegarmos.

Tipico do meu marido. E lá fomos nós á procura de umas “curvas á maneira”. Curvas havia muitas, nao há dúvida, mas a qualidade do alcatrao era por demais mázinha. Passado um bocado, lá o meu marido resolveu parar outra vez.

- Acho que isto não foi muito boa ideia...
- Achas??????
- Tenho a certeza. Que tal comermos algo e depois voltarmos para a AE??
- Acho que sim, que isto não está a ter piada nenhuma.

Parámos na primeira terreola que encontrámos, e era mesmo uma terreola, não havia nada aberto, nem sequer um Mac para desenrascar havia. Acabámos por ir parar a um bairro com muito mau aspecto onde encontrámos uma Patisserie aberta.

O restaurante ao lado tinha lá uns clientes algo duvidosos e o “sentido de aranha” do meu marido ficou logo em alerta, por isso fomos directos para a Patisserie.

Estávamos nós a decidir o que comer, patáti, patátá, e por ai fora, quando a senhora atrás do balcão se vira para nós e num Português com um sotaque algo afrancesado, nos pergunta se éramos portugueses.

Realmente, nós estamos mesmo em todo o lado. Então não é que numa terreola perdida nos confins de Franca, encontrámos uma portuguesa?? Então a senhora em questao tinha ido com os pais para Paris com 11 anos e depois foi parar aquela terreola porque casou com um francês que resolveu ir viver para ali. Entretanto, divorciou-se e só estava ali para fazer algum €€€ antes de regressar a Paris.

Lá ficámos mais uma hora á conversa até que nos pusemos novamente a caminho. Valha-nos o GPS, abençoado quem o inventou, senão ainda hoje andaríamos á procura da saída para a AE.

O resto da viagem atá Bordéus não tem muita história, mais umas paragens para gasolina, mais uns cafézinhos e lá acabámos por chegar a Bordéus. 600 Kms num dia é realmente um bocado demais, o meu traseiro que o diga, mas o meu marido estava ali como se não fosse nada com ele.

- Mas tu não estás cansado???
- Um bocadinho, nada demais.
- NADA DEMAIS??? Eu estou que nem posso e tu dizes nada demais????
- Ó amorzinho, tu não estás habituada a fazer tantos Kms, é normal. Eu já ando de mota desde 98 e com esta, já fiz mais de 160000Kms.
- Pois...
- E de qualquer maneira, ando a treinar para entrar para a IBA.
- IBA?? E isso é o que, é IVA á moda do norte??

Afinal, a IBA é a "Associação dos Gajos com Traseiro de Aço". E para se ser sócio, tem que se fazer 1000 Milhas em menos de 24h.

Eu começo realmente a achar que "os gajos das motas" são todos um bocado desregulados, o meu marido incluído. E eu não devo estar muito melhor...

- Ainda falta muito para o Hotel???
- Sei lá, ainda tenho que ver onde é ali no GPS.
- É que eu estou tão cansadinha que só quero ver a minha cama.
- Deixa-me lá acabar este café, e vamos já. Ora, o GPS diz que ainda faltam 200 Kms.
- 200kms???? O QUÊ?????
- Ah, enganei-me. Afinal, são só 2kms.

E depois ri-se. Não dá mesmo vontade de lhe bater????

Mas bato-lhe depois, agora só quero mesmo é ver uma caminha e uma banheira para tomar um banho.

Bem, já chegámos ao hotel. É o Premiere Classe de Lormont. É um hotel low-cost, custa 33€ por noite e tem o mínimo indispensável, mas é bastante confortável. Mais 8€ dos pequenos-almoços.

Depois de um banho que fez maravilhas, fomos á procura de onde comer. Andámos ás voltas e encontrámos um Mac aberto. Mas o meu marido não estava para ai virado.

- Depois de 600 Kms a conduzir, eu tenho que me alimentar como deve ser. Queres comer ai, porreiro, eu vou á procura de melhor.

A sério, eu bato-lhe, mas bato-lhe mesmo com vontade. Eu aqui cheia de fome e sua alteza agora armado em fino.

Mas ainda bem, porque acabámos por ir comer ao Buffalo Grill, uma Steak House onde comemos uns bifes com umas batatinhas fritas de comer e chorar por mais. Parece que vou ter que arranjar outra desculpa qualquer para lhe bater...

Já eram altas horas da noite quando resolvemos voltar para o hotel. O João pestana já estava de volta de mim e adormecer no carro com o marido a conduzir é uma coisa, na mota é totalmente diferente.

Tenho que admitir que, apesar de estar que nem posso, estou a gostar da viagem. Começo a perceber os "gajos das motas", realmente a tal sensação de liberdade que tanto falam é mesmo assim, mas não dá para explicar, só experimentando mesmo. E como tenho um condutor super cuidadoso, vou completamente á vontade atrás dele.

Chegámos ao hotel e fui direitinha para o quarto enquanto o meu marido ficou a verificar se estava tudo bem com a mota. Ele bem diz que "ah e tal, depois logo se vê", mas sempre que parávamos, lá ia ele ver o nível do óleo e por óleo na corrente.

Bem, já nao me apetece esperar mais por ele, estou que nem posso.

Vou dormir. Até amanha.

A Tia Maria

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