quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Já fui a Portugal Parte VI - o relato possível de uma viagem feita sem o minímo planeamento

Realmente, Madrid é muito bonita, nao há duvida. É pena nao termos visto mais. Estávamos a ficar sem tempo, pois tinhamos compromissos em Portugal, mas fomos até á Puerta del Sol e até á avenida Paseo de la Castellana, onde está o estádio Santiago Barnabéu. O meu marido era para ter vindo trabalhar para aqui há uns anos, mas a empresa faliu com o 9/11.

Andámos a passear por estas bandas simplesmente a apreciar as vistas, e o meu marido sempre a olhar para as vistas erradas.

Era por volta das 11h quando resolvemos arrancar para Lisboa. Tinhamos que chegar até Domingo porque segunda tinha uma consulta marcada no neurologista.

- Por onde é que vamos agora para Lisboa??
- Bem, o normal é apanhar a AE para Badajoz, depois, já emPortugal, a A6, e depois A2 até Almada, mas eu nao queria fazer isso. Vamos apanhar a primeira AE que virmos e depois, vamos ver onde é que vai dar.
- Estás a brincar, nao estás??
- Quer-se dizer, a modos e tal que não. Isto não é suposto ser uma aventura???
- Mas tanta aventura é demais.
- Deixa-te de mariquices, e anda lá. Achas que eu te levava para maus caminhos???

É melhor não responder...

Bem, e lá fui eu. Mas como é que ele me convence sempre a fazer estas coisas?????

Acabámos por entrar na A6 a caminho de sabe Deus para onde. Algures depois de muitos Km’s, aparece a indicação de portagem no túnel a seguir, e o meu marido não perde tempo, sai na primeira saída para a nacional.

Fomos andando até que ele pára.

- Sabes que mais??
- Quê?
- Estou com a ligeira sensação que estou perdido.
- E se ligasses o GPS??
- Epá, não me está a apetecer, é mesmo á aventura, vamos beber um café solo, e depois já pensamos melhor.

Parámos num café cheio de camionistas Espanhóis com proeminentes barrigas e um ar algo descuidado.

Sentámos-nos e pedimos “dos café solo”, isto para não nos servirem uma meia-de-leite, que é como os nuestros Hermanos gostam de beber café. O meu homem lá foi perguntar ao balcão qual era a melhor maneira de ir dali para Portugal e se havia algum sitio giro para visitar.

O Espanhol do balcão tinha um vozeirão que se ouvia a um Km. Entao o melhor era irmos até Ávila, uma cidade fortificada a uns 50Kms dali e depois ir para Ciudad Rodrigo.

- Ouviste o que o espanhuelo disse??
- Era difícil não ouvir , com aquele vozeirão.
- É capaz de ser giro. Nao estou é com muita vontade de ir a Ciudad Rodrigo, deve haver maneira de irmos mais depressa. É que assim, estamos a ir ainda mais para cima.
- Não querias aventura e não sei que?? Agora aguenta-te.
- Vou-me aguentar é com aquela tortilla de patatas que está ali a rir-se para mim. Queres uma também?
- Bem, já que insistes...

Se há coisa que os espanhóis fazem bem, são tortilhas. Que maravilha. Tenho que experimentar quando voltar para casa.

Já com o estômago bem acochegado, lá voltámos a caminho para Ávila. Passado poucos Kms, tivemos que parar para dar de comer á nossa Suzukinha. Também tem direiro, tadita.

O espanhol da ES veio meter conversa connosco enquanto o meu marido atestava a mota.

- Vocês são Portugueses??
-Somos, pois.
- A minha esposa tambem é Portuguesa, e uma das nossas filhas nasceu em Portugal, a mãe insistiu.
- A sério?? Que giro.

Bem, era só para atestar a mota, acabámos por ficar a ouvir o Espanhol contar a história da vida dele. Mas foi interessante, sem dúvida.

Lá nos conseguimos despedir a muito custo e rumámos a Ávila. E o meu homem pára novamente.

- Deixa-me adivinhar, estás perdido novamente.
- Bem, técnicamente, não estou perdido, sei que estou em Espanha.
- Que piadinha, sei lá.
- Olha, vou peguntar áquele gajo que vai ali de mota. Agarra-te.

E lá fomos nós atrás de um “gajo que ia ali de mota”. Lá o alcançamos e pedimos para ele parar. Lá tentámos perguntar-lhe o caminho para Ávila, mas o espanhol dele não era muito convincente.

- Olha lá, tu não és Espanhol, pois nao??
- Não, sou Escocês, vivo ali em baixo.
- Ah, então vamos falar Inglês que é melhor.

Remédio santo, o homem já não se calou. Lá nos indicou o caminho certo, ficámos a saber que tinha decidido ir viver para ali porque havia sempre Sol e os Espanhóis eram simpáticos. Não percebi muito bem esta ultima parte...

Finalmente, chegámos a Ávila, não há dúvida que é bonito e num estado de conservação irrepreensível. É pena não ter trazido a máquina fotográfica. Vou ter que fazer esta viagem toda de novo. Que chatice...

Mais um café solo, mais uma tortilla de patatas. E mais um passeio pela cidade. Vale a pena lá ir, digo-vos. Aliás, vale bem a pena ir passear por Espanha, tem zonas lindíssimas, mas fora das grandes cidades, é pena é darem tanto trabalho a descobrir.

Perguntámos a outro Espanhol como ir para Portugal sem ir pela AE, ele mandou-nos ir pela N110 até Plasencia, depois Coria e depois Portugal. E como nós somos bem mandados, lá fomos.

Passámos por uma zona montanhosa com umas curvas expectaculares, quando parámos mais á frente, o sorriso de orelha-a-orelha do meu marido dizia tudo, cheia de plantações de cerejas.

Parámos em Cabezuela del Valle, uma terreola perdida no meio de Espanha para mais um café e tortilha de patatas. Acabou por ser um café com cerejas. O dono do café era casado com uma Portuguesa e tinham uma filha e um filho, e ainda havia o irmão que era divorciado de uma Portuguesa. Ficou tão contente de nos ver que nos ofereceu um alguidar de cerejas.

Esta viagem ficou marcada por toda uma série de coincidências engraçadas. Mas tem piada que as vezes que fizemos esta viagem de carro, não nos aconteceu nada destas coisas.

O resto da viagem por hoje não tem muita história. Quando chegámos a Plasencia, virámos para Coria e depois entrámos em Portugal por Monfortinho, parámos numa terreola para beber finalmente um café a sério. Acabámos por entrar numa tasca cheia de homens, eu era a única mulher, e nunca me senti tão despida na vida, e o meu marido só ria.

Estava tão cansada que lhe pedi para irmos para Lisboa só no dia seguinte. Acabámos por ir dormir em Castelo Branco numa residencial em conta, 40€, mas com uma casa de banho que parecia saída de um filme dos anos 50. Limpinha, com águinha quentinha, mas completamente demodé.

Depois de um banhinho para retemperar forças, sempre foram á volta de 450Kms, fomos tratar do jantarinho. Comemos uns panados de frango com uma sopinha caseira de legumes numa tasca perto da residencial, que souberam a pouco, mas áquela hora, já nos podiamos dar por contente porque não havia mais nada aberto.

Depois de vermos o jornal da noite, e de nos pormos a par das noticias, mais valia ter estado quieta, resolvemos que estava na altura de cair nos braços de Morfeu.

Mas estavam várias motas paradas á porta da residencial e o meu marido lá arranjou maneira de saber quem eram e, então, foi conversa até ás tantas.

Amanhã devemos chegar a Lisboa.

A Tia Maria.

Sem comentários:

Enviar um comentário